Horário de Brasília

terça-feira, janeiro 30, 2007

[fragmentos] de REALIDADE - 11 Norte

segunda-feira, janeiro 01, 2007

outrOOlhar - Lost, Versão Brasileira

Dia de um tripulante na Era Vôos Atrasóica

Por Suely Frota

Na segunda – feira, 18 de dezembro, ao tentar embarcar com destino à Fortaleza, o ambiente do salão de embarque do aeroporto de Brasília me inspirou a escrever uma crônica.

Esperei uma hora e meia para finalmente o avião resolver decolar. O salão de embarque estava comparável com o seriado americano Lost. Pessoas desconhecidas, umas calmas, outras desesperadas, perdidas, sem saber o que fazer, mas todas com um único objetivo: saírem de onde estão e chegarem VIVAS aonde pretendiam chegar. De vez enquanto, vozes do além avisavam que o vôo atrasou alguns minutos. Atrasavam horas.

Por um momento também me senti numa biblioteca. Sabe como é né? Nessas ocasiões cada um se vira como pode. Uns liam revista Contigo, outro mergulhava nos mistérios de Agatha Christie e outros preferiam ler gibis com os filhos. Alguns nem se deram o trabalho de ler nada, acredito que se concentravam no sonho de sair daquele salão o mais rápido possível.

Antes de ir ao aeroporto recebi alguns conselhos de um ente querido, ele dizia: “cuidado, se vir um legacy avisa para a aeromoça”, antes de sentar, vai na cabine do piloto e pede para ele ligar o transponder hein?”. Morri de rir quando escutei, mas eu sabia que aqueles conselhos não eram nada mais nada menos do que preocupação.

Viajar de avião agora é sentir-se um Lostiano, conviver com pessoas desconhecidas, que você nunca viu na vida, não saber quando e que horas vai sair de onde está, e claro, rezar pra sair vivo.

terça-feira, dezembro 26, 2006

CIDADE VERMELHA // 311 NORTE - Loucuras das Ruas

Por Suely Frota

Aqueles que têm casa, comida e roupa lavada todo dia, não sabem como é a vida fora de um bom lar. Procurar chão menos duro ou lugar menos frio para dormir, faz parte do cotidiano de moradores de rua.

Conhecer um pouco deste lado social também não é fácil. Como sei? Dia desses quando procurava pauta para o plantão do HB, encontrei na 311 Norte, um grupo de pessoas deitadas do lado da cerca de gramado. Foi quando conheci Cosme, mais conhecido como tatuagem. Morava com os pais na 711 norte, fez segundo grau completo e já trabalhou com bandas de Brasília. Tinha uma vida estável, até brigar com pais por conta da bebida e resolver largar tudo para bancar o vício sozinho. Foi assim que começou a morar nas ruas. Para ele, que conhece de perto os dois lados da moeda, viver na rua é complicado. Cosme, hoje, trabalha olhando carros e é assim que garante a cachaça de cada dia. Não se importa muito com o que vai comer no outro dia, para ele o importante é alimentar o vício que carrega há tempos. Cachaça, para ele, é sinônimo de amnésia, esquecimento, a única forma de está e não enxergar o que passa na vida.

Para Cosme, a pior coisa é não ter cama, edredom, onde possa dormir confortavelmente e seguro. Seu corpo está revestido de manchas avermelhadas, sinais da dura dormida nas ruas. Pés estão rachados da sujeira e de tanto perambular pelas ruas de Brasília. Possui, ainda, algumas feridas, resultado de brigas com colegas. “Não sou muito de brigar não, mas às vezes é necessário, eu preciso me defender”, conta. Quando todos se reúnem para beber, ninguém é amigo de ninguém. Não existe amizade nas ruas, há companheirismo. Juntos procuram lugares para dormir, ganhar um trocado, se alimentar e tentar viver com pouco de paz. Indigna-se com pessoas com condições financeira que só reclamam da vida: “Se vocês acham que tem problema, é porque não sabem o que é, quem tem problema é quem mora na rua”, afirma.

Desde o primeiro momento em que vi Cosme, sabia que ele era um personagem diferente no meio daquela história. Nas ruas, Cosme só é aceito por que virou um deles, não aceitam o fato dele ter largado a vida que tinha para morar nas ruas, e tudo por conta de um líquido vicioso. Todo dia escuta dos companheiros que ele está ali por que quer. Mas Cosme em momento algum pensa em voltar para o que tinha antes. Quando tentei convence-lo que poderia melhorar de vida e ajudar os amigos que conheceu na rua, não quis me ouvir. Falou que não adiantava eu dar conselhos, eles seriam em vão, o vício não o deixava procurar uma vida melhor. Cosme é só mais um que conta a história do vício de viver, ou melhor dizendo, de viver por um vício. Ele tinha tudo para ser alguém na vida e preferiu se unir ao nada. O líquido vicioso diluiu toda e qualquer vontade de crescer e ser alguém na vida. O álcool encheu-lhe a boca de prazer e olhos de lágrimas.

Assim eu vejo a vida
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
Mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria

Cora Coralina

quarta-feira, dezembro 13, 2006

CIDADE VERMELHA//611 NORTE – Sob o olhar de Dona Mônica

A Casa do Estudante Nipo-Brasileiro mistura estudantes japoneses e brasileiros em pensionato administrado pela rígida, porém amigável, Dona Mônica

Por Peu Lucena

terça-feira, dezembro 12, 2006

CIDADE VERMELHA // 911 NORTE - Casa do Ceará

Por Gabriela Rocha

sábado, dezembro 02, 2006

. DE VISTA - Cabeças Cortadas

Quem tenta definir Glauber Rocha
bom sujeito não é.
Alguém já tentou definir o vento?
Pois o exercício seria de mesma grandeza,
árduo.
Sabemos dos benefícios do vento.
Da magnitude da brisa, do frescor,
da calmaria.
Combustível das pipas, balões,
moinhos e embarcações.
Também do vento arteiro, pilantra,
traiçoeiro, sem-vergonha.
Aquele vento que chega sem aviso,
do nada, derruba casa, cai morro,
leva teto e até levanta saia de moça desavisada.
Esse é o vento.
Esse é Glauber. Seria.
Seria se Glauber Rocha não fosse o avesso do avesso,
a mudança.
Seria se Glauber não fosse a personificação
do cinema novo, que misturou com o velho
e que hoje é atual, mas nem tão novo assim.
Seria se inquietude fosse, deveras,
característica definida, estática.
Se atrasado alguns anos estivesse,
se hoje parisse Dona Lúcia,
Glauber dormiria no colo do ostracismo.
Não reinaria no Cinema Novo.
Pois o Cinema Novo seria antigo, esquecido e deturpado.
Seria a morte dos filmes velhos
mais atuais já vistos num futuro próximo.
Seria a atemporaneidade
que ressuscita Glauber a cada projeção
e devolve o desbunde juvenil
que a juventude de hoje não cultua, despreza.
Morram os manuais de cinema!
Viva Glauber Rocha!


Por Peu Lucena

terça-feira, novembro 28, 2006

CIDADE VERMELHA - Brasiliense, forte como o cerrado

Por Patrícia Leite

Noite dessas abriu-se uma enorme discussão sobre o que é ser brasiliense. Os mais apocalípticos diziam que ser brasiliense era conviver entre os abutres do poder sem virar carniça. Era uma espécie de engajamento ecológico. Conviver entre cobras, ratos e outros peçonhentos e conter os desejos homicidas que estes “animaizinhos de pequeno porte” — ou seria de grande porte? Enfim, — incitam a libertar. Integrados —bem mais otimistas — diziam que o grande barato de estar perto do coração político nacional era ser confundido com “gente que tem grana” — poder.

Em janeiro, servidores públicos, estudantes, deputados, senadores etc. saem de férias, geralmente rumo ao litoral — candangos, com os filhos e netos voltam à terra natal para visitar parentes — para quem não sabe, candangos são os primeiros migrantes que vieram para Brasília na década de 60 e que erroneamente são chamados de brasilienses. Estes primeiros trabalhadores brasiliensemente chamados de piotários — não construíram grandes patrimônios —, tornam-se celebridades ao chegar às origens. Pessoas de outras localidades acham que candangos são marajás, vizinhos do presidente do Congresso Nacional e que tomam, diariamente, sorvete na mesma sorveteria que a primeira-dama, Marisa Letícia.

Apocalípticos não perdiam uma deixa e atacavam: Brasília não tem mar e todo início de ano fica mais deserta que o Saara, uma paz de latejar. E a defesa contra-atacava: na verdade, não ter praia é muito bom, imagine a cidade lotada de turistas, preços sobem, estresse. É melhor não ter praia, pegar o camelo — bicicleta —, juntar amigos — brasilienses andam em tribos —, visitar cachoeiras e trilhas, acampar, fazer fogueira, e no primeiro sábado de lua cheia descer para esplanada e tocar violão.

Apocalípticos, em tom de escárnio, diziam: detestamos a frieza cinza de tanto concreto. Integrados respondiam: em que lugar do mundo você vai tropeçar com a colorida arte — mais de 300 obras — de Athos Bulcão? Um museu a céu aberto. E, por falar em céu... Em que outro lugar há um por do sol tão lindo e cheio de matizes? Isto sem falar na diversidade cultural das pessoas, deste povo tão multifacetado. Apocalípticos se rendiam e diziam: não há lugar tão miscigenado, de povo tão rico. O brasiliense é valente — tem a força do cerrado.

Horas de discussão. Conversas circulares não chegavam a lugar comum. O dia amanheceu. Integrados disseram: Que tal um café no aeroporto? Afinal, ser brasiliense é comer bem, é ter retórica, é terminar uma rodada de contenda acompanhada de chocolate quente, pão de queijo, sanduíche e ansioso para começar a próxima discussão. Apocalípticos em uníssono: só se for agora.